Tudo que é sólido desmancha no ar, até Paulo Guedes (por Ricardo Noblat) – Heron Cid
Bastidores

Tudo que é sólido desmancha no ar, até Paulo Guedes (por Ricardo Noblat)

26 de maio de 2020 às 12h08
Paulo Guedes discursa em cerimônia no Planalto | Adriano Machado/Reuters

Meritório o esforço do mercado financeiro em fingir que o vídeo da reunião ministerial de abril último não revelou qualquer irregularidade cometida pelo presidente Jair Bolsonaro, nem mesmo a tentativa ali explicitada de intervir politicamente na Polícia Federal, como disse o ex-ministro Sérgio Moro.

De resto, segundo agentes do mercado, Bolsonaro deu provas mais uma vez de que na Economia manda e mandará o ministro Paulo Guedes. Nada, pois, a turvar o horizonte do país. Daí o movimento na Bolsa de Valores que se recupera e o freio na desvalorização do real diante do dólar. Assim é se lhe parece.

Bolsonaro limitou-se a repetir o que sempre disse com relação a Guedes – tanto mais em momentos em que mantém abertas tantas frentes de batalha ao mesmo tempo. O desempenho de Guedes na reunião foi pífio e vexaminoso – mas o melhor, por enquanto, é fazer de conta que foi bom como se esperava.

Guedes sugeriu que seu propósito é atrelar o destino da economia à obsessão do presidente em se reeleger. O que isso poderá significar? Os magos do mercado que consultem os astros. Guedes falou em ganhar dinheiro com a ajuda a grandes empresas e em deixar as pequenas de mão.

As pequenas são responsáveis pelo emprego de milhões de pessoas. Acenar com a abertura temporária de frentes de trabalho para milhares de jovens a 200 reais e apenas por dois meses, nada tem a ver com o que fizeram certos países asiáticos em epidemias recentes. O tráfico de drogas remunera melhor.

O que Guedes propôs está mais para o que fizeram governos militares na década de 70 quando a seca no Nordeste matava gente de fome. As frentes de trabalho pagavam uma ninharia a flagelados da seca para que limpassem estradas ou construíssem estradas que muitas vezes ligavam o nada a coisa alguma.

Caso se veja frente a frente com o iceberg que ele já começa a enxergar, Bolsonaro será capaz de esquecer tudo o que já disse sobre Guedes e trocá-lo por quem prometa retardar a colisão.

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