PF nas ruas e uma coincidência no ar – Heron Cid
Opinião

PF nas ruas e uma coincidência no ar

26 de maio de 2020 às 12h43 Por Heron Cid
Depois de Fortaleza e Recife, Polícia Federal 'visitou' o Palácio das Laranjeiras, onde despacha Wilson Witzel, desafeto público do presidente

Que tem por aí alguém se aproveitando da pandemia e das facilidades em compras milionárias, ninguém dúvida.

Em terras brasileiras, há sempre bandido infiltrado nas gestões públicas. Uns ordenando despesas, outros fazendo lobby. Uma história repetida 500 anos.

Contra esses tipos, toda atenção e rigor para prevenir, interceptar e punir.

Mas, a diferença entre remédio e veneno é a dose.

O controle externo não pode variar de acordo com a ficha partidária ou a orientação ideológica. Nem para reprimir e nem para isentar.

A Polícia Federal voltou às ruas. Ela já teve em pelo menos três endereços famosos. Fortaleza, governada pelo grupo do governador Camilo Santana (PT), Recife, do prefeito Geraldo Júlio (PSB), e hoje passou das portas do Palácio das Laranjeiras, onde despacha o governador Wilson Witzel (PSC), que atravessou o caminho bolsonarista como pretenso candidato em 2022.

Uma coincidência.

Os alvos são todos políticos adversários do presidente Jair Bolsonaro. O último, chamado de “estrume” na famosa reunião ministerial. Um desafeto público em maus lençóis salpicado por imagens nada honrosas com viaturas à porta.

Outra coincidência?

Dias após de se saber que ministros desejavam a prisão de governadores e prefeitos.

Mais uma?

Vinte dias seguintes à troca no comando da Polícia Federal, polícia de estado ameaçada de instrumentalização, motivo pelo qual levou o então ministro Sérgio Moro a divergir e pedir pra sair da Esplanada.

Para a instituição, Bolsonaro queria nomear o chefe da Abin, Alexandre Ramagem, homem da confiança pessoal do presidente e dos filhos. Deu errado por força de sentença de Alexandre de Moraes, do STF, mas para lá foi Rolando Alexandre, pessoalmente escolhido pelo presidente.

Pelas próprias declarações e depoimentos de Moro, Bolsonaro almeja uma PF para chamar de sua. Uma polícia ao seu serviço. Uma espécie de guarda pretoriana, como analisado aqui em artigo.

Terá conseguido? Melhor crer que não e confiar apenas que seja uma ‘feliz’ coincidência para o presidente.

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