Crise na comunicação da Paraíba é real e agora ganha feições – Heron Cid
Bastidores

Crise na comunicação da Paraíba é real e agora ganha feições

27 de abril de 2020 às 13h54
Extinção do programa de Patrícia Rocha e Bruno Sakaue é a ponta do iceberg de algo muito maior na imprensa paraibana; até quando a categoria ficará com a boca aberta esperando a morte chegar?

Eu já dizia nos bastidores. Muita gente, inclusive os próprios jornalistas, só vai acreditar na crescente crise na comunicação da Paraíba quando ela tiver a cara de figuras públicas e ‘celebridades’ locais.

Enquanto somente a ‘periferia’ fosse atingida e a água não molhar os tornozelos mais badalados, as vozes tão eloquentes continuariam silentes.

A TV Arapuan comunicou hoje a extinção de um dos seus programas. O maior e mais novíssimo da grade da emissora liderada pelo possante empresário João Gregório.

Especulações à parte, a nota oficial da empresa comprova as informações de bastidores. A questão maior a tirar do ar os qualificados Bruno Sakaue e Patrícia Rocha (mas não só eles) tem nome e sobrenome: sustentabilidade financeira. Ou a ausência dela.

Os meios de comunicação estão sendo profundamente afetados pela crise econômica, agravada de morte pela pandemia do novo coronavírus.

Para se manter no ar com regularidade, certas estruturas demandam muitos profissionais e custos, de razoáveis a elevados, obrigando todas – sem exceção – a se reinventarem no tamanho e na ponta do lápis.

Antes de “No A”, programa aqui em questão, a página já vem sendo desenhada. O programa Paraíba Urgente, da TV Manaíra/Band, com Cacá Barbosa, foi suspenso. Justificativa: diminuição de despesas. Dias atrás, a mesma emissora dispensou repórter, cinegrafista e editor de imagens.

Há tempos, por força de resultado de consultoria empresarial, a TV Cabo Branco – afiliada de TV Globo – vem redimensionando toda sua estrutura organizacional, otimizando gastos e enxugando folhas.

O Sistema Correio teve que fechar os olhos para sua própria história e precisou antecipar o desligamento dos aparelhos e o fim da agonia do Jornal Correio.

A crise concentra-se na capital paraibana, mas não só nela. No Interior, as confidências pessoais de radiodifusores são cortantes. Algumas emissoras de rádio estão dando férias a seus profissionais e outras entraram em dificuldade de sequer honrar o pagamento da energia que liga transmissores aos ouvintes.

Portais de notícias, com custos naturalmente mais baixos e empregadores de parcela significativa dos jornalistas, também vivem suas dores. Esses ainda mais afetados porque geralmente estão fora das planilhas das agências de publicidade e dos clientes do mercado privado.

Depois da quarentena, poucos deles voltarão para suas sedes e quase todos adotarão o sistema de trabalho remoto para reduzir energia, aluguel, internet, material de expediente e pessoal administrativo. A única luz no fim do túnel para tentar afugentar o fantasma do fechamento. Do contrário, com eles no chão, muitos empregos se vão. Para onde? Ninguém sabe.

Deixando de lado o orgulho, muito peculiar à nossa categoria, não há uma só emissora ou veículo por estas bandas em que colegas jornalistas, técnicos e pessoal de apoio estejam imunes ao permanente pesadelo e ansiedade do aviso prévio ou da demissão sumária.

Essa é uma realidade nua e crua no nosso meio. Se nós não atentarmos para isso, buscando ampliar saídas junto com sindicatos, universidades e entidades representativas, e apenas esperarmos pela ação isolada dos empresários, pode ser tarde demais.

E existe um fator prático para apressar esse debate inadiável. Na maioria dos grupos e sistemas, comunicação não é o único e nem o maior negócio dos seus donos. Se tudo der errado nesse ramo, eles têm planos B, C, D e E  e podem ir para suas casas viver de outras rendas.

Mas, e o jornalista, o locutor, o técnico?

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