Acordamos cedo. O dia era histórico, mas, pela idade infantil, eu nem tinha a dimensão de quanto.
Da janela de casa, já dava para ver a movimentação e o vai e vem na rua principal da BR.
Logo em frente, no Salão Paroquial da Capela de Santo Antônio, local de votação, os mesários preparavam tudo.
Aos poucos, nossa sala e cozinha iam enchendo mais do que o de costume naqueles domingos de recepção de primos do sítio e conhecidos.
Eram eleitores para tomar café ou fazer um lanche. Dona Nuita, minha avó, madrugou para não faltar garrafa cheia.
Marizete, minha mãe, ajudava no transporte de quem vinha mais distante. E também no convencimento de que o voto ‘sim’ era o melhor para Marizópolis.
O dia inteiro de carros estacionando. Velhinhos e deficientes chegaram às urnas trazidos nos braços por cabos eleitorais e lideranças políticas.
Havia um entusiasmo no olhar, uma esperança nas faces. Era o movimento plebiscitário, parte da exigência legislativa da Assembleia para emancipar o então distrito de Marizópolis e mais outros 51.
Se muitos se esforçaram, lutaram e até brigaram, outros tantos se omitiram, se ausentaram ou simplesmente foram contra mesmo. Era a parcela que não botava fé e nem via naquela pequena comunidade estatura para ser alçada à cidade.
Felizmente, foi a minoria. A maioria venceu com larga vantagem. Houve vivas e comemorações pelas ruas ao final da apuração.
Meses depois, em 29 de abril de 1994, a Lei Estadual que nos tornara, finalmente, município independente, estava sancionada. Eu estava lá.
Em 1996, veio a primeira eleição para prefeito de Marizópolis. Eu também estava lá. Como estive, adolescente e depois homem feito, em todas outras seis subsequentes.
E estarei, de novo, este ano, pela oitava vez. Com o mesmo título de eleitor e de cidadão marizopolense que sou na mão. O que tirei aos 16 anos e nunca mudei de domicílio. Porque até hoje carrego aquele plebiscito no peito…