Um jeito diferente de lembrar quem manda – Heron Cid
Bastidores

Um jeito diferente de lembrar quem manda

27 de novembro de 2019 às 17h57

Qualquer um no lugar de João Azevêdo (PSB), governador da Paraíba, já teria chutado o pau da barraca no meio do turbilhão de constrangimento que seu partido vem lhe impondo desde antes, durante e depois da inexplicável intervenção cartorial, um estupro político como faz tempo não se via por estas bandas nem em legendas de aluguel.

Imagine, por exemplo, quantos segundos o então governador Ricardo Coutinho conviveria com auxiliares que ousassem divergir dele, conceitual, partidária ou politicamente?

A postura comedida de Azevêdo por vezes é mal interpretada. Na política, aliados e parachoques no meio desse bombardeio até reclamavam da postergação de decisões inadiáveis, como a remoção de secretários alinhados com a ala que vem desafiando a autoridade de João, quando não boicotando e desqualificado o chefe do Executivo.

Era comum nas rodas políticas figuras do meio tratarem a paciência de João diante de ataques, indiretas e provocações como demonstração de hesitação. Outros, mais radicais, até apostavam em jogo de cena ou o pior: uma suposta relação de receio ou dependência do antecessor, o condutor da ofensiva contra seu sucessor.

Nenhuma coisa e nem outras.

A demissão de Fábio Maia, executivo de Planejamento, e de Yuri Simpson, presidente da PBprev, depois de muito sal nessa tumultuada relação no Jardim Girassol, além de extremamente simbólicas, só atesta que João, definitivamente, não é uma figura previsível.

Reagir à tentativas de intimidação ou humilhação com a mesma moeda não está no seu script. Sabe engolir sapos tanto quanto comer papa quente. Pelas beiradas, como mandam os mais velhos, pra não queimar a língua e nem ter indigestão.

Hoje, ele admitiu o contexto político das exonerações, mas pontuou a necessidade administrativa do Estado contar com secretários “mais presentes”. Uma forma indireta de dizer que indicados do ex-governador já não estão mais produzindo para o governo, dado o clima de distanciamento teórico e prático deles da gestão.

João reage à intempérie com um movimento sóbrio, vacinado de açodamento, que neutraliza, pouco a pouco, renovadas e públicas tentativas de desestabilização. Sem grito e sem cara feia. Um estilo diferente de dizer quem manda.

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