Ricardo e a estratégia da contraofensiva – Heron Cid
Opinião

Ricardo e a estratégia da contraofensiva

13 de setembro de 2019 às 13h08 Por Heron Cid
Futuro de Ricardo Coutinho, ex-governador da Paraíba, continua sendo incógnita; e essa interrogação pode responder muito sobre 2020

Ninguém, por mais que a sorte lhe bafeje, chega por acaso ao Palácio da Redenção. Ricardo Vieira Coutinho não é diferente. Os seus últimos passos, no epicentro da crise do PSB, provam.

Tão logo a conflagração interna no PSB foi sacramentada com a intervenção vertical em seu favor, Ricardo farejou no seu feeling apurado a hora de agir. Ou reagir.

Nas últimas horas, absteve-se do silêncio que até então era estratégico e passou a ocupar todos os espaços midiáticos para a demarcação do território de sua narrativa.

Dois objetivos estratégicos: desconstruir a inevitável imagem negativa da áurea de golpe orquestrado no partido e tentar inverter a narrativa colocando seus contendores na parede.

De preferência, na condição de traidores ou, na melhor das hipóteses, ingratos.

Na mira, João Azevedo, Veneziano Vital, Edvaldo Rosas, Nonato Bandeira, Ricardo Barbosa e Hervázio Bezerra, por exemplo. Parte da bancada governista entrou, por gravidade, no pacote, como uma “maioria perigosíssima”.

Um parêntese. Nesse mister, Ricardo sabe das coisas. Sem nenhum demérito para seus assessores, Coutinho sempre foi o marqueteiro de si mesmo.

No governo e na política, inteligente e dono de visão de longo alcance, é ele próprio quem estabelece as estratégias de comunicação, porque sabe ler pesquisas e ouve opiniões.

E tem uma capacidade extra e rara até de influenciar pessoas aos seus propósitos ao nível de convencê-las à ficção de pensar que o influenciam. Convencidos da presunção de influência sobre personalidade tão emblemática, esses se sentem, naturalmente, encorajados a ir à praça e até à guerra.

Voltemos ao ponto da análise.

Sob a ótica retórica, o movimento das últimas horas produz o contraponto calculado na obstinação pessoal do líder socialista de polarizar o debate, inverter papéis e reverter interpretações.

É um fôlego que Coutinho ganha no cenário nebuloso por uma sucessão de fatos: da Calvário à contestação interna num partido em que outrora era aclamado presidente de honra.

A esta altura e pelo conjunto da obra, sair de algoz para vítima é uma tarefa complexa a exigir além de palavras. Os gestos postos são mais eloquentes.

Nada que intimide Ricardo e sua arte peculiar de transformar adversidade em oportunidade.

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