Acessível amor – Heron Cid
Opinião

Acessível amor

25 de agosto de 2019 às 11h53 Por Heron Cid
No abraço solidário ao projeto Acesso Cidadão, uma criança cadeirante é erguida aos céus como um troféu: uma vitória do amor sobre o preconceito

Dona Nuita, minha avó e dona de sabedoria desprovida de diploma, dizia: “Não há mal que não traga um bem”.

Lembrei dela ontem ao presenciar uma multidão nas areias do Cabo Branco, em João Pessoa, para apoiar o projeto Acesso Cidadão, um voluntariado que permite pessoas de mobilidade reduzida à inclusão na praia.

A conhecida má intenção possibilitou, como reação contra uma atitude isolada, um grande abraço de solidariedade, de fraternidade e cidadania.

Vi lá muito mais do que uma manifestação.

Assim como muitos ainda desconhecedores desse trabalho de perto, pude extrair lições de partilha, de afeto, de empatia e de amor ao semelhante, diferente por um detalhe, mas completo no direito de ser, no sonho de viver.

Paralíticos jogando vôlei, cadeirantes deslizando nas ondas, deficientes em caiaques, crianças especiais de pés nas areias e muita gente com sorriso no rosto.

Gente que voltou a se encontrar com a natureza, com a vida, com a esperança. Familiares que perderam o receio do preconceito, de mãos dadas partilhando de pequenas mas redentoras atividades.

E um mar de amor em forma de voluntários.

Homens e mulheres que investem tempo e até dinheiro em quem nada tem a oferecer em troca, a não ser uma face de agradecimento.

Como Rêni, assistente social: “Não é um trabalho, é uma alegria, um prazer, ofertar vida, lazer, vínculos familiares e ver pessoas se redescobrindo em momentos tão difíceis da vida, pessoas que tinham sua vida e de repente sofrem um acidente e perdem a independência. É tudo muito bonito”.

É muito bonito servir, doar-se e realizar-se na alegria do outro, de quem teve um projeto amputado, ou de quem nunca terá uma resposta por que andar não está no seu DNA.

Marly, minha companheira de vida, e eu levamos Benjamim, filho que ainda nem chegou ao quarto ano de vida.

Curioso, observou cenas as quais ainda nem compreende direito. Mas, ontem, ele já começou a aprender que, nas diferenças, somos iguais.

Que o desamor é a única ‘deficiência’ contra a qual devemos resistir. E que servir é o gesto humano que supera todos os limites.

Comentários