Olavo, um Rasputin tropical (por Nelson Motta) – Heron Cid
Bastidores

Olavo, um Rasputin tropical (por Nelson Motta)

10 de maio de 2019 às 12h00
Foto do jantar na embaixada brasileira em Washington D.C. compartilhada por Jair Bolsonaro no Twitter (Reprodução/Twitter)

Os Bolsonaros chamam Olavo de Carvalho de ícone, como se isso fosse alguma coisa. Ícone de quê? Para quem? Desde quando? Há ícones de tudo, do bem ou do mal.

É estranho que um grande mestre, morando há 15 anos nos Estados Unidos, nunca tenha dado aulas em nenhuma grande, média ou pequena universidade americana, onde tantos brasileiros lecionam. Seu forte são os cursos à distancia para brazucas, uma espécie de madrassa digital que forma fanáticos por suas ideias.

Chamado pelo general Villas Bôas de “Trotski de direita” (que é equivalente ao clássico “É um Rimbaud. Mas sem o talento”, de Hélio Pellegrino), está mais para um Rasputin tropical. Com sua vasta cabeleiraargentée , cigarro no canto da boca e ternos saídos dos anos 70, vaidoso, debochado e desbocado, tem domínio absoluto sobre a família real, que o idolatra, embora não demonstre mínimos conhecimentos políticos, filosóficos e sociológicos para compará-los com as pregações olavistas. Há algo de religioso no culto que prestam ao evangelho ultraconservador do mestre.

Olavo começou a ficar famoso quando vendeu mais de 300 mil cópias do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, com críticas devastadoras ao PT, à esquerda, ao coletivismo e ao globalismo, e logo conquistava mais de 500 mil seguidores nas redes sociais, se tornando dono das cabeças da família Bolsonaro, a ponto de entrar em guerra com a elite militar que apoia o capitão.

Apesar de sua desastrosa indicação do patusco Vélez para ministro da Educação, defenestrado por total incompetência, Olavo continua com seu prestígio inabalado, dando munição para o Mito e seus minimitos atacarem os generais moderados que tentam dar algum equilíbrio e racionalidade ao governo.

Olavão deve se divertir com a idolatria dos ignorantes e com o poder que lhe dão, pela incapacidade de contestá-lo intelectualmente e pela fé cega no mestre.

Se fosse ficção, seria um incrível personagem numa grande tragicomédia fantástica latino-americana, pena que é real.

O Globo

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