Acordo de Paris é conversa para ambientalista dormir. Por Leandro Narloch – Heron Cid
Bastidores

Acordo de Paris é conversa para ambientalista dormir. Por Leandro Narloch

6 de dezembro de 2018 às 18h30

Ambientalistas temem que Bolsonaro retire o Brasil do Acordo de Paris e desista da candidatura para sediar a COP-25, a conferência anual da ONU para negociações sobre o clima. De fato, não sei se seria uma boa estratégia do governo. O Acordo de Paris é tão fraco e impraticável que talvez nem valha a pena desafiá-lo.

Meu resumo do Acordo de Paris. Em 2015, depois de anos de muito discurso e enrolação, líderes mundiais acordaram que cada país signatário produziria relatórios (ou seja, mais discurso e enrolação) com metas de redução de emissão de carbono na atmosfera. Por pressão de diversos líderes (entre eles Obama, que temia a derrota da proposta no Senado americano), o acordo não saiu “legally binding”, ou seja, não ganhou força de lei.

Se algum país não cumprir as metas que estipulou, provavelmente tudo se resolverá com diplomacia, explicações, talvez pedidos de desculpas e novas promessas. Mais discurso e enrolação.

É o que deve acontecer com o Brasil e a maioria dos países. Na semana passada, o Programa da ONU para o Meio Ambiente publicou um relatório sobre as emissões de gases do efeito estufa dos países do G20. Mostra que diversos países na prática ignoraram suas metas. É o caso de Coreia do Sul, Austrália, Argentina, Canadá, União Europeia e Estados Unidos. Outros países, como Turquia e Rússia, até parecem cumprir o prometido, mas porque estipularam metas baixas demais.

O Brasil é um dos poucos países que tem andado na linha, mas isso não é exatamente uma boa notícia. O país emitiu menos carbono nos últimos anos porque viveu a maior crise econômica de sua história. Empobrecemos – e pobres, por definição, produzem e consomem menos.

Agora imagine se a economia der um salto nos próximos anos. Será uma excelente notícia para os brasileiros pobres e para quem se preocupa com eles. Mas isso resultará em mais fretes de caminhão, mais lixo, blocos de concreto, SUVs a diesel, engarrafamentos, churrasqueiras e lareiras, mais alimentação e agricultura. Se isso acontecer, soará como piada a promessa de reduzir as emissões de carbono em 37% até 2030. Mais ricos, poluiremos mais.

Quando integrantes do setor agrícola pedem para Bolsonaro pegar leve com os ambientalistas e manter o Brasil no Acordo de Paris, estão querendo dizer o seguinte: “presidente, não arranje problema para si próprio; vale mais a pena manter a conversinha do Acordo de Paris e deixar os ambientalistas adormecidos”. Abandonar o tratado pode resultar em represálias comerciais e dificuldades para estrangeiros investirem por aqui –e ainda há a possibilidade de perdermos dinheiro destinado a países pobres investirem em energias renováveis.

É melhor evitar provocações e deixar o assunto para 2030.

Folha

Comentários