Tiros a esmo. Por Merval Pereira – Heron Cid
Bastidores

Tiros a esmo. Por Merval Pereira

4 de outubro de 2018 às 10h26

Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e são tão variadas que o PT não sabe para onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente anunciando que o PT não apenas ganharia a eleição, mas tomaria o poder.

Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci, teve sua delação premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em que esteve no poder.

A confirmação de que Lula era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder, encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.

A passeata #Elenão acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro. Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres, e nas redes sociais, está explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless, para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam mais educadas e respeitadoras.

Como o candidato oficial do PT, Fernando Haddad, não existe por si só, e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula ao consultá-lo pessoalmente toda semana, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas, nem pelo aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos 20%.

Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a outra, levando o candidato do PT a estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro eleições presidenciais.

O marco de 25% a 30%, insuficiente para vencer, só ampliado quando Lula foi para o centro, abandonando os radicalismos das propostas partidárias.

Essas disputas internas no PT sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto, uns querendo que Haddad radicalize as críticas a Bolsonaro, outros considerando que só com a carta do “paz e amor” ele será capaz de ampliar seu eleitorado, sem o que não vence a eleição presidencial.

À medida que vai sendo revelada a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente, e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição, alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula, ou, dizendo obedecê-las, criam situações de constrangimento para o candidato Fernando Haddad.

A presidente do partido, Gleisi Hoffman, diz que fazer acordos para o segundo turno, e amenizar o tom na campanha seria trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente, e dá margem a que os adversários cresçam.

O Globo

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