Entrevista: Cássio 'colhe' na Folha o que 'plantou' na Arapuan – Heron Cid
Bastidores

Entrevista: Cássio ‘colhe’ na Folha o que ‘plantou’ na Arapuan

27 de setembro de 2018 às 21h46

A polêmica declaração do senador Cássio Cunha Lima (PSDB) no Arapuan Verdade – da Rede Arapuan de Rádio – repercutiu e rendeu entrevista do tucano na Folha de São Paulo.

Como na semana passada na Arapuan, hoje na Folha, o vice-presidente do Senado criticou a estratégia da campanha de Geraldo Alckmin contra Jair Bolsonaro.

Cássio diz considerar Alckmin o mais preparado, mas não esconde uma impressão pessoal: foi o candidato do PSL quem captou o sentimento anti-PT, antes dominado pelo PSDB, que viu essa hegemonia se esvaindo entre os dedos, principalmente, depois da facada contra o capitão reformado do Exército.

Confira a entrevista completa. Ao final, tente adivinhar como Alckmin se sentiu ao ler o conteúdo…

Gustavo UribeDaniel Carvalho

BRASÍLIA

Em um exercício de autocrítica, o ex-governador da Paraíba e vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB), considera que a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) errou ao fazer ataques ao adversário do PSL, Jair Bolsonaro, e defende uma mudança de rumo na fase final da campanha eleitoral.

“Em dado momento, a campanha do Alckmin se contrapôs ao eleitor histórico do PSDB. E isso precisa, nesta reta final, ser resgatado”, disse. Em entrevista à Folha, o tucano avalia que seu partido “não pode cometer o erro de achar que tem a fidelidade absoluta” do eleitorado tucano e que precisa recuperar o apoio de eleitores antipetistas, hoje com o capitão reformado.

Como vê o cenário atual da campanha?
É uma campanha que, apesar de alguns indicadores apontarem para uma polarização entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro, ainda acredito que exista um espaço para o crescimento da candidatura de Geraldo Alckmin.

Que erro o Alckmin poderia ter evitado?
De forma mais genérica, a partir do atentado, o Bolsonaro deixou de ser um simples candidato de carne e osso que você pode enfrentar e passou a catalisar um sentimento. Quando você passa a enfrentar um sentimento, ao bater no portador dessa ideia, você se confronta com os que acreditam naquilo, na mensagem. Então, em dado momento, a campanha do Alckmin se contrapôs ao eleitor histórico do PSDB. E isso precisa, nesta reta final, ser resgatado.

Se o senhor pudesse sugerir uma mudança de rota, qual seria?
A mudança que eu faria era uma concentração firme na nossa linha histórica de crítica ao PT.

E pararia com as críticas ao Bolsonaro?
Acho que, a esta altura, as críticas tem que [parar]. Até porque tem uma lógica de corrida. Se você está numa corrida de automóvel em terceiro lugar, para chegar ao primeiro, você, antes, tem que atravessar o segundo. Você não sai de terceiro para primeiro. Hoje você tem, faltando poucos dias para as eleições, um candidato que tem um voto muito cristalizado no primeiro turno, que é o Bolsonaro, e tem outro segmento que fala para a candidatura do Haddad. É preciso ultrapassar o Haddad. E como faço isso? Mostrando a este eleitor, que está indo para o Bolsonaro, que nós também somos anti-PT. Porque, na hora que você faz crítica ao Bolsonaro e faz crítica ao PT, você perde um pouco a hegemonia da polarização com o PT.

O Bolsonaro, então, tomou o lugar do PSDB nesta polarização esquerda-direita?
Ele ocupou um espaço, sobretudo depois da facada, quando deixou de ser um candidato. O brasileiro que está indignado com a corrupção e que está clamando por segurança pública se vê representado hoje na ideia e na concepção da candidatura do Bolsonaro. Quando você faz este enfrentamento a um sentimento, você está enfrentado uma ideia. E o eleitor se sente atacado também. E este eleitor já foi nosso. É este eleitor que precisamos recuperar até o dia 7.

Então, a recuperação do eleitor que está com Bolsonaro não ocorre com ataques ao capitão reformado? 
O PSDB não pode cometer o erro de achar que tem a fidelidade absoluta deste eleitor. Este eleitor não tem fidelidade incondicional ao PSDB e, consequentemente, à candidatura de Alckmin. E ele precisa ser conquistado, cativado. Como? À medida que nos apresentemos como, de fato, uma alternativa anti-PT, coisa que o Bolsonaro está conseguindo fazer com mais competência. Esta é a minha opinião e acredito que seja a opinião majoritária no partido. Mas eu não tenho o comando da comunicação da campanha.

O problema são os marqueteiros?
Nessas campanhas você tem profissionais contratados que decidem.

O PSDB não perdeu só agora espaço. Há também uma associação com as denúncias de corrupção que envolveram o partido.
Este segmento eleitoral ao qual estou me referindo, que tem este sentimento, tem demonstrado uma rejeição a tudo isso. É um fato que vem ocorrendo há algum tempo. Mas a estratégia da campanha de Alckmin foi no sentido de conseguir uma base política mais larga, que conseguisse converter isso em apoio eleitoral e tempo de televisão. O tempo de TV, que poderia alavancar a candidatura, se se comete um erro estratégico, pode, em vez disso, puxar para baixo. Considero Alckmin o mais preparado, qualificado e melhor candidato. Continuo defendendo a candidatura de Alckmin, voto nele e faço a campanha dele.

O que levou o PSDB a chegar neste cenário de dificuldade atual?
A política brasileira, de forma geral, sofreu as consequências da Lava Jato. Em dado momento, os grandes partidos tiveram problemas fruto do sistema político brasileiro e daqueles que fizeram opções nítidas de enriquecimento ilícito. Qual a vantagem que o Bolsonaro levou neste processo? Além de ter uma trajetória nômade no aspecto partidário, ele nunca teve nenhum envolvimento direto mencionado nestes episódios. Denúncias foram feitas e devem ser apuradas. O PSDB tem uma postura diferente e nós não afirmamos que se trata de uma conspiração. Todos devem responder pelos seus atos, devem ser investigados. Só que esta mensagem não foi dita com muita clareza, talvez.

O senhor vislumbra uma unidade entre Alckmin e Bolsonaro no segundo turno?
A chegada do Alckmin fará com que ele traga esse sentimento antipetista para a candidatura dele. Por isso, acredito na chegada dele ao segundo turno e na vitória dele. Mesmo que não traga o percentual completo dos que estão hoje com o Bolsonaro, a grande maioria vai migrar para o Alckmin no segundo turno.

Então, pode haver um segundo turno sem apoios partidários claros.
A candidatura do Bolsonaro representa isso. Por isso, digo que é perigoso e arriscado bater nele, porque ele não tem tempo de televisão e não tem partidos políticos, mas chegou ao que chegou porque catalisou esse sentimento. Isso precisa ser respeitado e observado com muita atenção.

Há espaço para a aprovação de uma reforma previdenciária ainda neste governo?
O governo Temer não tem nenhuma credibilidade, legitimidade ou autoridade para propor qualquer coisa que interfira na vida dos brasileiros. O que o presidente precisa é contar as horas, começar a arrumar as gavetas e ir para a casa.

Folha

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