Temer vê fuga de aliados, mas não pode acusar a todos de ingratidão. Por Bernardo Mello Franco – Heron Cid
Bastidores

Temer vê fuga de aliados, mas não pode acusar a todos de ingratidão. Por Bernardo Mello Franco

26 de setembro de 2018 às 11h24
Michel Temer, ex-presidente da República

Pouca gente lembra, mas Michel Temer ainda é presidente do Brasil. Ontem ele fez seu último discurso na Assembleia Geral da ONU. Durante 20 minutos, exaltou o próprio governo e recitou lições para os outros países.

Temer apresentou uma versão particular de sua gestão, a mais impopular desde o fim da ditadura. “Dissemos não ao populismo”, disse, em tom imodesto. “Restauramos a credibilidade da economia”, prosseguiu. “Devolvemos o Brasil ao trilho do desenvolvimento”, acrescentou.

Em outra passagem, o presidente se congratulou pela queda do desmatamento na Amazônia. Diante da plateia de estrangeiros, ele citou uma redução em relação a 2004. Faltou dizer que a devastação voltou a aumentar no seu governo. Nos últimos 12 meses, o salto foi de 40%, segundo dados divulgados no mês passado pelo instituto Imazon.

Temer passa a impressão de quem se olha no espelho e vê um estadista. Eleitores e políticos parecem ter outra imagem dele. O presidente se tornou uma companhia tóxica na campanha. Seus aliados fazem o possível para evitá-lo. Nem sempre funciona.

O candidato do MDB, Henrique Meirelles, está entre os lanterninhas da corrida presidencial. Apesar de já ter torrado R$ 45 milhões na própria campanha, ele tem apenas 2% das intenções de voto. Está em empate técnico com o bombeiro Cabo Daciolo, que declarou ter gasto R$ 738 até a última semana.

Sentindo-se abandonado, Temer virou dublê de youtuber. Sob a supervisão do marqueteiro Elsinho Mouco, passou a gravar vídeos contra políticos que fugiram dele. “Ao longo do tempo você inúmeras vezes elogiou o meu governo”, lamuriou-se, na mensagem dirigida ao tucano João Doria.

O presidente não pode acusar a todos de ingratidão. Ontem à noite a procuradora Raquel Dodge decidiu não denunciá-lo no caso Odebrecht. Acusado de pedir propina de R$ 10 milhões, ele corria o risco de ser afastado às vésperas do fim do mandato. Agora ganhou um salvo-conduto da polícia até o dia 1º de janeiro.

O Globo

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