Com a palavra, Marielle Franco. Por Bernardo Mello Franco – Heron Cid
Bastidores

Com a palavra, Marielle Franco. Por Bernardo Mello Franco

19 de março de 2018 às 09h36
Marielle Franco (Márcio Folleto/Agência O Globo)

As autoridades já decidiram: o assassinato de Marielle Franco confirma que o governo está com a razão. Foi o que se ouviu no Planalto na quinta-feira, enquanto o corpo ainda era velado no Rio.

“A morte da vereadora é só mais uma evidência de que estamos no caminho certo ao decretarmos uma intervenção federal”, disse o ministro Carlos Marun. “Por isso, aliás, nós decretamos a intervenção. Para acabar com esse banditismo desenfreado”, emendou o presidente Michel Temer, que já definiu a medida como uma “jogada de mestre”.

Marielle não pode responder: foi executada com tiros à queima-roupa. Três semanas antes, a vereadora subiu à tribuna da Câmara e fez duras críticas ao governo. O discurso sugere que ela protestaria contra o uso de sua morte para justificar a intervenção.

“Eu vivi na Maré a intervenção militar por 14 meses. Os favelados e faveladas sabem exatamente o que é o barulho do tanque na sua porta”, disse Marielle, referindo-se à ocupação iniciada às vésperas da Copa. “Onde é que vai ser realmente a intervenção? Quem sabe aonde a ponta do fuzil vai ser apontada?”, questionou.

A vereadora leu trechos de um boletim do comandante do Exército, general Villas Bôas. No documento, ele avisou que a intervenção exigiria “comprometimento, sinergia e sacrifício dos poderes constitucionais, das instituições e, eventualmente, da população”.

“Afinal de contas, quem é que vai vigiar? A quem vai prestar contas o tão ilibado Exército Brasileiro?”, questionou Marielle. “Eu quero saber se os legisladores desta Casa estão tranquilos quanto à retirada de direitos. Que processo democrático é esse?”, perguntou.

Criada na favela, a vereadora estava preocupada com o risco de aumento da violência policial. Ela criticou a proposta de permitir operações de busca sem mandados individuais, como exige a lei. O Ministério Público e a Defensoria Pública também se opuseram à ideia, que seria abandonada pelo governo. “Eu quero saber quem vigia os vigias”, insistiu Marielle.

O discurso foi feito na sessão plenária de 20 de fevereiro.

O Globo

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