Maia resolver ter piti com fala de Torquato. Por Reinaldo Azevedo – Heron Cid
Bastidores

Maia resolver ter piti com fala de Torquato. Por Reinaldo Azevedo

2 de novembro de 2017 às 10h21
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente carioca da Câmara — nascido em Santiago, eu sei —, demonstra que, em matéria de ridículo, ele pode percorrer extensões mais longas do que uma simples viagem até o Oriente Médio. O valente lidera uma farra turística de nove deputados a Israel, com parada na Itália no retorno a Banânia. É o chamado “dolce far niente”, em que se especializam alguns de nossos mais ilustres representantes.

Uma nota antes que continue. Ninguém sabe o que a turma foi fazer por lá, às expensas da Câmara. Só em hospedagem, o custo é de R$ 90 mil. O Poderoso requisitou um avião do FAB. Custo a calcular. Mas vemos, como se sabe, aqui e ali, Maia posar de Catão da República. Nos veículos do grupo globo e associados, alcançou a estatura de pensador. Foram recebidos pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu? Não. Trata-se de um homem ocupado. Alguma outra autoridade relevante de Israel? O presidente do Parlamento, Yuli Edelstein, e o ministro de Segurança Pública, Gilad Erdan, encontraram-se com a turma: cada um lhes dispensou 20 minutos. Também estavam muito ocupados. Ah, sim: os turistas visitaram também o Museu do Holocausto e depois foram para Ramallah. Colocaram flores no túmulo de Yasser Arafat e tiveram direito a mais 20 minutos com outras pessoas ocupadas: o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas; o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, e outros membros do Conselho Legislativo da ANP. E vambora pra Itália dançar a tarantela dos desocupados.

Bem, lá de longe, claro!, Maia não poderia ficar sem mandar seu recado do dia a um veículo do grupo Globo. Em entrevista ao Blog da Andréia Sadi —  ela publica sempre antes o que andam dizendo pelas bocas e becos de Brasília, muito especialmente o que não vai acontecer —, o doutor faz uma cobrança dura ao ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre o estado de desordem da segurança no Rio. O doutor está inconformado porque Jardim denunciou o conluio entre agentes da polícia, da Assembleia e, tudo indica, do Estado com o crime organizado. Com a fragmentação do comando do tráfico, as milícias estão tomando o seu lugar, o que leva à multiplicação de lideranças locais — associadas, muitas vezes, a policiais.

Vamos lá. Se me perguntarem se aprovo o modo como o ministro tratou a questão, a minha resposta seria esta: “Em si, não!”. O que quer dizer esse “em si”? Tomada em sua pureza, fora do contexto, é “não”. Mas o trabalho do jornalismo compreendia antigamente, e compreende ainda em alguns casos, ir além da fofoca, não importa a distância. A verdade é que o governo federal, em especial o destacamento das Forças Armadas, bateu num paredão chamado “governo do Estado”. Em vez de colaboração com as tropas federais, o que se viu foi o boicote de um governo que vive em estado de desordem. Aquele equilíbrio precário entre bandidagem e simulacro de segurança pública que vigorou no Rio de Sérgio Cabral foi para o beleléu.

Lembram-se quando as UPPs eram consideradas, inclusive pela imprensa carioca, o último bombom da caixa? Pois é…

Rodrigo Maia ignora o contexto e apenas dá uma de uma carioca ofendido, como fez o ministro do Supremo, Roberto Barroso, quando Gilmar Mendes lembrou a esculhambação das contas públicas no Rio. Ademais, o presidente da Câmara evidencia que não conhece a Constituição. Afirmou que, se é como diz Torquato, o governo federal precisa intervir na segurança do Estado. Bem, já interfere. Mais do que isso, ai é preciso simplesmente fazer intervenção no Estado. Ocorre que isso praticamente paralisa o governo federal e o Congresso. Vale dizer: o resto do Brasil pagaria o pato.

De toda sorte, Rodrigo Maia tenha a opinião que quiser, já que, ultimamente, ele virou especialista até em espinhela caída. Mas que o seja, ao menos, em solo brasileiro. E que, aqui chegando, faça com que o grupo dos deputados ressarça os cofres públicos por sua viagem inútil.

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