Míriam Celeste, minha querida esposa. Por Odilon Fernandes – Heron Cid
Bastidores

Míriam Celeste, minha querida esposa. Por Odilon Fernandes

29 de julho de 2017 às 09h23

Certa feita estava a realizar uma sustentação oral no Tribunal de Justiça da Paraíba, quando, ao término, assim como os demais presentes, fui surpreendido com a intervenção do desembargador e grande amigo Júlio Paulo Neto que, junto aos seus pares, teceu considerações elogiosas à minha pessoa. A homenagem foi inesperada e o fato inesquecível!

Ao sairmos do Tribunal, Miriam convidou-me à Capela, para agradecermos a Deus por aquele momento tão lindo. Estava muito emocionada e enobrecida com o gesto das nobres autoridades na ocasião. Dizia ter tanto orgulho de mim! Acompanhei minha esposa ao sacrário. Ali, prostrada, Miriam inicia a sua reza cheia de emoção. Dizia, entre outras coisas: “Jesus, agradecemos pelas Tuas bênçãos, Tua generosidade, Tua presença em todos os momentos das nossas vidas…” até que o telefone celular tocou, fazendo Miriam pausar a oração. Tirou o aparelho da bolsa e atendeu. Era a sua mãe, Dona Dorinha, perguntando onde estaria Miriam naquele momento, ao que respondeu: “estou na Capela do Tribunal, mamãe!”. Dona Dorinha insatisfeita continua o questionamento: “e você está aí fazendo o que?”, e Miriam responde, contando a novidade: “Estou agradecendo a Deus por uma bela homenagem que fizeram a Odilon, frente a todos no Tribunal!”. Novamente dona Dorinha interpela: “E como foi, Miriam? O que foi que disseram?”, e minha esposa, ainda fazendo sinal da cruz e olhando para o alto, ainda de frente para o sacrário, respondeu-lhe: “Mamãe, estou rezando, depois conto detalhes! Foi tanta coisa bonita… Disseram o diabo dele!”.

Noutra oportunidade, quando viajávamos para Gramado (RS), em um determinado trecho o avião entrou numa séria turbulência. Em toda a aeronave o pânico se formou. Miriam pegou forte em minha mão e, apertando-a, disse-me: “Odilon, este avião vai cair! Vamos todos morrer! Reze comigo, meu amor, vamos nos entregar a Deus!”. Começou, então, suas orações. Dizia: “Senhor, é chegado o nosso momento e tudo o que queremos é sermos recebidos por Ti, entrar para a eternidade ao Teu lado e morar na Sua morada…”. Eu não conseguia me concentrar na oração. Estava, àquela altura do campeonato, preocupadíssimo! Assistia a todos os demais passageiros, igualmente apavorados, compartilhar da mesma prece. Interrompi Miriam, que me olhava com os olhos esbugalhados, e desabafei: “Miriam, você tem razão, acho que desta vez chegou nossa hora mesmo! Vamos rezar juntos!”. Indignada, virou-se repentinamente, me dando um “bofete” e me repreendendo: “Vira essa boca pra lá, seu pessimista! Não diga uma desgraça dessas não! Eu quero é viver!”

Ainda sobre fé…

Costumávamos frequentar o Shopping da Alfândega, em Recife. Visitávamos assiduamente a Livraria Cultura, dentre outras tantas lojas. Contudo, Miriam não deixava de frequentar uma, em especial: a loja de santos e imagens católicas. Certo dia, enquanto explorava os livros da querida livraria, preocupou-me a demora de Miriam em retornar ao meu encontro. Fui, então, à sua procura.

Chegando à loja, deparei-me com Miriam em pé, olhando requentes para um santinho que segurava. Parecia-me encantada com a peça. Olhava-a minuciosamente, sob todos os ângulos, atenta aos detalhes do sacro objeto. Eu fiquei ali, esperando por mais de trinta minutos, enquanto Miriam ainda olhava o santo. Já impaciente, interrompi aquela análise: “Miriam, veja quanto é! Não tem problema se for caro. Você está tão admirada! Estou vendo que gostou… leva logo!”. Com surpresa, ouvi responder-me impetuosamente: “Deus me livre! Nunca que levo um santo horroroso como este! Nunca vi um bicho tão feio! Eu estava admirada com a feiura! Sai pra lá!”. A loja nunca ficou tão silenciosa como quando Miriam terminou o seu desabafo frente aos vendedores e demais clientes expectadores. Saí de fininho!

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