Temer balança, mas não cai. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

Temer balança, mas não cai. Por Ricardo Noblat

26 de julho de 2017 às 11h40

À parte rapapés, mesuras e palavras ao vento que costumam marcar tais ocasiões, restou de substancial somente uma coisa do jantar que reuniu em São Paulo na última segunda-feira o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o Estado Maior do DEM: Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara dos Deputados, disse com todas as letras que caso venha a substituir Michel Temer na presidência da República não cairá na tentação de ser candidato à reeleição em 2018. Alckmin fingiu acreditar.

No momento, as chances de a Câmara conceder licença para que Temer seja julgado por corrupção são quase as mesmas da época em que a denúncia contra Temer foi encaminhada pelo Procurador Geral da República Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal: poucas, ralas. Poderiam ter ganhado robustez se a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara tivesse aprovado o relatório do deputado Sérvio Zveiter (PMDB-RJ) que recomendava a concessão da licença.

Ao trocar uma dezena e meia de titulares da Comissão por suplentes alinhados com ele, Temer decidiu sua sorte até aqui e podou as asas de Maia, o nome mais forte para sucedê-lo em definitivo. O PSDB sempre foi um obstáculo à ascensão de Maia. Prefere seguir apoiando Temer, não se sabe até quando, só para evitar o risco de que Maia assuma a vaga dele e dali não queira sair tão cedo. O PT prefere Temer presidente até o fim para tentar crescer na oposição a um presidente exangue.

Rocha Loures, o homem da mala que se destinava a Temer, segundo Janot, já está sob controle: arranjaram-lhe uma tornozeleira eletrônica às pressas para que pudesse se mudar da Penitenciária das Papuda, em Brasília, para o conforto do seu lar. Dá-se como certo dentro do governo que ele jamais delatará Temer. Cabe aos seus advogados criar uma narrativa para justificar a devolução da mala com R$ 500 mil reais.

Esperam-se as próximas denúncias de Janot contra Temer. Ou se espera a segunda e última. É pouco provável que ela produza mais barulho do que a primeira. O que haveria de mais grave do que um presidente da República receber no porão do seu palácio a visita de um empresário investigado por corrupção que confessa crimes, combina futuros encontros e sai tão livre como entrou? Se o governo não tiver votos para enterrar as denúncias, a oposição também não terá para aprová-las.

Vida que segue.

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