A hora da autocrítica de Bolsonaro – Heron Cid
Opinião

A hora da autocrítica de Bolsonaro

17 de outubro de 2018 às 11h27 Por Heron Cid
Jair Bolsonaro (Foto: Cristiano Mariz Data:05/04/2015 Local: Congresso Nacional - Bras’lia - DF)

O conselho/desabafo do ex-governador Cid Gomes (PDT) foi dirigido ao PT, mas também serve para o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Com um pé no Palácio do Planalto, o capitão precisa reconhecer que fez e disse muita “besteira”, adjetivo usado por Cid para enquadrar o PT.

Às portas do segundo turno e com pesquisas amplamente favoráveis, Bolsonaro ainda tem tempo de se reconciliar com o bom senso e pedir desculpas por discursos e frases inaceitáveis para alguém que se propõe a ser presidente de uma República.

Na boca de um deputado folclórico até se releva, mas é incompatível um chefe de Estado continuar levando à risca o pensamento sobre quilombolas, tratados por ele como afrodescendentes improdutivos e inaptos até para procriação.

Deveria pedir desculpas e reconhecer que, no mínimo, foi infeliz quando – no calor do confronto – disse a uma deputada que ela não merecia ser estuprada. E quem merece?

O Bolsonaro deputado não pode achar normal que o Jair candidato possa receitar “coro” (surra) para mudar “comportamento” de filho gay e “ensinar a ser homem”, como expressou em entrevista à TV Câmara, em novembro de 2010.

O homem que tem tudo para ser o próximo presidente do Brasil deve se redimir com as mulheres. Ao dizer que “fraquejou” ao gerar uma filha, depois de conceber quatro homens, Bolsonaro tratou o sexo feminino como um “erro”, como gênero inferior.

Ao lapidar a frase “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, o capitão reformado do Exército endossou o que há de pior em matéria de desrespeito e covardia contra os direitos humanos.

Faltam dez dias para a grande e talvez a maior decisão dos brasileiros, nas últimas décadas. Ainda há espaço para Bolsonaro fazer sua “mea culpa”e ter um gesto de humildade, como aconselhou Cid Gomes aos aliados do PT.

Se o PT fecha os ouvidos e – mesmo no abismo da derrota – finge que não cometeu os maiores escândalos de corrupção da história da Nação, Bolsonaro – na iminência da vitória – poderia fazer caminho diferente de quem tanto critica.

Um bom começo seria mandar para os arquivos bizarrices, preconceitos e palavras que não cabem na estatura de um líder de um País laico, miscigenado, plural, e que ainda engatinha no respeito às diferenças.

Essa cobrança não deve ser só dos adversários. Deve partir principalmente dos seguidores de Bolsonaro, aqueles que sonham vê-lo um presidente à altura do Brasil. Não um eterno deputado do baixo clero com uma faixa presidencial no peito.

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