Uma decisão difícil. Por Merval Pereira – Heron Cid
Bastidores

Uma decisão difícil. Por Merval Pereira

26 de setembro de 2018 às 11h16
A perplexidade que toma conta dos eleitores que não querem nem Bolsonaro nem Haddad pode produzir conseqüências no resultado final da eleição. O clima de protesto com votos nulos, em branco e abstenção pode voltar, mudando o cálculo para a eleição já no primeiro turno, pois só contam os votos válidos. Fica mais fácil ter votos suficientes para ir para o segundo turno, ou até mesmo ganhar logo.  

Já houve época em que o voto em branco era interpretado como um voto de conformismo do eleitor, enquanto o nulo era o voto de protesto. Não há como dizer se essa interpretação é correta nos dias de hoje, pois a urna eletrônica facilita o voto em branco, tem uma tecla só para ele, e dificulta o voto nulo.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), numa jurisprudência do século passado, considera que votos nulos não existem, “é como se nunca tivessem sido dados”.Ignorar o recado que as urnas enviaram aos nossos políticos nas recentes eleições, considerando que os votos nulos nunca existiram, é um reflexo da leniência com que tratamos nossas mazelas político-partidárias.

Os votos em branco eram considerados válidos até a Constituição de 1988, quando também entraram na lista dos não-votos. Na eleição municipal de 2016 houve o maior índice de votos brancos e nulos no Rio de Janeiro desde a implantação das urnas eletrônicas, em 1966.

Na verdade, quanto mais votos inválidos, menor a quantidade de votos que um candidato precisa para vencer a eleição. É o que fez Freixo chegar ao segundo turno com apenas 16% dos votos válidos, (o que representa muito menos do total de votos) e Marcelo Crivela chegar em primeiro com menos votos que os nulos, em branco e as abstenções. O eleitor que escolhe esse tipo de protesto, portanto, está facilitando a vida de quem está na frente das pesquisas.

Os números da pesquisa Ibope mais recente querem dizer que o segundo turno possivelmente deverá ser Bolsonaro contra Haddad. Se não houver uma decisão no primeiro turno, o que é possível, embora estaticamente improvável, deve acontecer com o Bolsonaro.

Existe um movimento político nesse sentido, como, ao contrário, a campanha #Ele não está muito disseminada e deve ter tido efeito para barrar o crescimento de Bolsonaro. Se parte dos cerca de 20% que estão com os demais candidatos quiserem votar contra o PT, esses votos podem ir Bolsonaro, para impedir que o PT chegue ao segundo turno, principalmente depois que a pesquisa do Ibope mostrou que nele Haddad ganha de Bolsonaro.

Se essas tendências forem confirmadas pelas demais pesquisas esta semana, marcando o crescimento de Haddad e a estagnação, ou eventual queda de Bolsonaro, fica real a possibilidade de o candidato do PT ultrapassá-lo ainda no primeiro turno, o que pode gerar um movimento contrário a favor de Bolsonaro.

O Globo

Comentários