O capitão, os generais e o golpe. Por Ricardo Noblat – Heron Cid
Bastidores

O capitão, os generais e o golpe. Por Ricardo Noblat

17 de setembro de 2018 às 08h44

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) estavam em débito com uma pergunta que insistiam em driblar.

A pergunta a Bolsonaro: O senhor reconhecerá o resultado da eleição mesmo se for derrotado?

A pergunta a Haddad: O senhor dará um indulto a Lula caso se eleja presidente da República?

Haddad continua em débito. Não quer dizer se daria um jeito de libertar Lula já. Ou se esperaria que a Justiça o fizesse como deverá fazê-lo.

Bolsonaro liquidou a fatura quando falou por meio de sua página no Facebook diretamente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Em vídeo gravado na véspera, ele parecia em melhor estado. Caminhava seguido por uma equipe médica e acenava para a câmera.

Ao vivo, falou baixinho, tossiu uma vez, quase chorou duas vezes, e emocionou-se outras tantas. Assustou quem o viu.

Começou dizendo que petista “também é ser humano”, agrado aos eleitores de Lula que ainda não aderiram a ele, mas poderão fazê-lo.

E centrou fogo na urna eletrônica. ”Nossa preocupação não é perder no voto, é perder na fraude”, disparou.

Disse que vê um risco “concreto” de fraude – no caso, é lógico, se ele perder a eleição. “Se essa fraude acontecer, acabou a democracia”.

Lembrou que sempre quis o voto impresso. Para emendar: ”Não temos qualquer garantia nessas eleições” [sem o voto impresso].

Foi tudo combinado com sua tropa visível de conselheiros e com a invisível que veste farda, ou tudo não passou de mera coincidência?

Outro dia, o general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, afirmou que a legitimidade da eleição poderá ser contestada depois do que aconteceu a Bolsonaro.

O que o general quis dizer exatamente com isso? Não ficou claro, embora tenha reafirmado o respeito dos militares à Constituição.

Em entrevista à GloboNews, o general Hamilton Mourão, que se diz “amigo de infância” de Villas Boas, também falou em respeito à lei.

Mas na ocasião admitiu que um eventual governo de Bolsonaro, em caso de necessidade, poderia patrocinar um “autogolpe”.

Dito de outra maneira: poderia convocar as Forças Armadas para intervirem e restabelecer a ordem ameaçada.

Mais recentemente, Mourão especulou sobre uma nova Constituição a ser encomendada a um “grupo de notáveis”.

O Mourão fardado mais famoso (Olímpio) foi aquele que liderou o golpe de 64 e mais tarde definiu-se como “uma vaca sagrada”.

O Mourão escalado para vice de Bolsonaro credencia-se a disputar o título de o primeiro conspirador a conspirar pela TV e redes sociais..

O roteiro do golpe está sendo exposto a céu aberto, ao vivo e a cores. Não será por isso que dará certo ou errado.

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