Juiz apressado, condenado rebelde: a batalha pela prisão de Lula. Por Bernardo Mello Franco – Heron Cid
Bastidores

Juiz apressado, condenado rebelde: a batalha pela prisão de Lula. Por Bernardo Mello Franco

7 de abril de 2018 às 11h58

Sergio Moro parece ter planejado a prisão de Lula como o grande clímax da Lava-Jato. Não aconteceu exatamente como ele gostaria. Ao resistir à ordem para se entregar em 24 horas, o ex-presidente frustrou o enredo imaginado em Curitiba. Não foi o primeiro e não deve ser o último duelo entre o juiz e seu réu mais ilustre.

Moro atirou primeiro ao decretar a prisão de Lula na tarde de quinta, poucas horas depois de o Supremo Tribunal Federal negar seu pedido de habeas corpus.

A pressa do juiz inflamou quem vê uma perseguição política ao ex-presidente. Em tese, a defesa ainda poderia tentar um último recurso ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Os advogados tinham até a próxima terça para formular novos embargos de declaração, conhecidos como “embargos dos embargos”.

Ao ordenar que o petista se apresentasse imediatamente, Moro surpreendeu até o presidente do TRF-4. Em entrevistas, Carlos Eduardo Thompson Flores havia informado que Lula ainda deveria ficar livre por cerca de 30 dias, até que o tribunal julgasse os novos embargos. Moro ignorou a previsão e resolveu abreviar o processo.

Os “embargos dos embargos” são recursos protelatórios, e certamente seriam negados pelo TRF-4. Mesmo assim, para evitar contestações, a atitude mais cautelosa para o juiz seria esperar o desfecho do processo. Ele se antecipou para impedir que Lula voltasse ao palanque — e, com sorte, ainda conseguisse um segundo salvo-conduto do Supremo.

Ao apressar a prisão, Moro se expôs a novas críticas de advogados e aliados de Lula. Isso já havia ocorrido quando ele ordenou a condução coercitiva do ex-presidente e quando divulgou seu famoso áudio com Dilma Rousseff. No caso do grampo, o juiz foi repreendido pelo ministro Teori Zavascki, que considerou sua atitude irregular.

Ontem foi a vez de Lula surpreender Moro. Ao se amotinar no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-presidente criou um impasse. De manhã, o juiz mandou recados de que poderia mandar a polícia buscá-lo no meio da multidão. Os petistas mais exaltados ensaiaram uma resistência, o que poderia terminar em confronto.

À tarde, os dois lados baixaram a bola. Ficou combinado que a ordem para Lula se apresentar em 24 horas era só uma “oportunidade”, e a PF passou a negociar sua rendição pacífica no fim de semana. Hoje haverá missa em memória de Marisa Letícia, e os ânimos tendem a serenar. Melhor assim.

O Globo

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