Quando a dose errada transforma remédio em veneno – Heron Cid
Opinião

Quando a dose errada transforma remédio em veneno

24 de março de 2017 às 00h41 Por Heron Cid
"Ler" mal quem pensa que o jornalismo digital é ameaça ao impresso; ele é a evolução

O Correio da Paraíba – único jornal paraibano que heroicamente ainda resiste à agonia do impresso –  foi induzido a erro, creio, ao assinar uma campanha publicitária, no mínimo, equivocada.

Ao invés de uma autocrítica e reforma de conteúdo e abordagem compatível com a mudanças em curso, o veículo escolheu – na tentativa de se auto-afirmar num cenário pouco favorável – o terreno raso da desqualificação da mídia digital, sentenciando para si a exclusividade do atributo da credibilidade.

Não deveria, mas passou um vexatório recibo do quadro generalizado de quedas de assinaturas impressas, em detrimento do crescente universo da informação na palma da mão.

Pelo mote escolhido, tudo que é parido da Internet, incluindo sites, portais e blogs, não merece muito crédito.

Um colossal deslocamento da realidade, a começar pela plataforma do próprio Sistema Correio, que conta, entre seus veículos, com televisões, rádios e… Tan-tan-tan-tan…Um portal de notícias. Detalhe: parceiro do bem sucedido UOL.

A julgar pela campanha, telespectadores, ouvintes e internautas do Sistema não devem pôr um pingo de fé no que vêem, ouvem e acessam na velocidade da notícia, em alguns casos transmitida com som e imagem do fato ao vivo. Precisam aguardar pela ‘verdade’ do dia seguinte.

Se olhar para dentro de casa mesmo, o Correio enxergará que a maioria das estrelas do seu valoroso cast atua – paralelamente – como blogueiros, donos de sites e titulares de perfis bem ativos. Do social à política. Da moda à economia. E até onde consta, todos éticos, profissionais e dignos.

Aliás, é da rádio e TV Correio o comunicador com o perfil mais seguido da Paraíba no Instagram, o irreverente Emerson Machado, com o seu mofioficial, um protagonista virtual que não merece ser enquadrado – por dedução – a disseminador de “notícias incompletas, reportagens inacabadas e até boatos”. Ou merece?

O discurso das peças é desconetado do link da prática dos próprios passos da empresa na corrida para adaptação à era da força digital. No mesmo caminho de todos os jornais do Brasil, cujas assinaturas digitais já superam as impressas, lançou sua versão online, com postagens e atualização em tempo real dos fatos. O que é louvável e necessário.

Para dialogar com as redes sociais, a quem seu novo e mal versado anúncio exageradamente estigmatiza como ambiente inconfiável, o Sistema criou, e não faz tempo, uma Diretoria específica e focada nesse nicho.

E a contradição mais gritante. Para tentar reverberar seu conceito e ser ouvida em sua mensagem de forma veloz e com o maior alcance simultâneo possível, a empresa se vale, exatamente, do seus canais oficias e oficiosos no facebook, instagram, twitter e wathsap como espaço de divulgação da dita campanha.

Uma ironia que só não é maior do que o constrangimento ao qual seus profissionais foram submetidos, na dura e cruel tarefa de postar atirando na imagem e valores dos seus próprios domínios na Internet.

Equívocos à parte, qualquer cidadão sabe que jornalismo isento e apurado depende da formação e compromisso de pessoas sérias. E isso independe do meio.

Se o alvo era o jornalismo digital, em fase de pleno vapor, a campanha acertou no próprio pé. Talvez por usar arma e calibre errados.

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